Axé a todos Irmãos de Fé
Emidio de Ogum
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“Umbanda é o grande e verdadeiro culto que os espíritos humanos encarnados, na Terra, prestam a Obatalá, por intermédio dos Orixás. Desse culto participam os espíritos elementais e os espíritos humanos desencarnados.” “Na sua essência e na sua finalidade, a Umbanda é idêntica a todas as religiões do passado e do presente.” “Em resumo, a Umbanda é a Caridade. Nada mais.” Altair Pinto (Dicionário da Umbanda, Rio de Janeiro: Ed. ECO, 1971. pp. 195-197)
O texto abaixo foi publicado pelo Templo Umbandista Cristão "Casa Branca de Oxalá".
Na verdade a intenção dos defensores dessa idéia é de criar, em todos nós, o sentimento de que somos culpados pelo sofrimento de Cristo, e que por isso devemos nos redimir de nossos pecados perante o Pai para que sejamos perdoados e podermos entrar no Reino dos Céus. Por isso é necessário um Deus vingativo e punitivo, pois não fazendo o que nos diz essas religiões estaremos condenados ao fundo do Inferno. Como poderíamos imaginar uma troca que já vai entrando em seu terceiro milênio continuar resgatando pecados tão mais recentes e diferentes daquilo que eram naquela época? Qual seria o Deus Tirânico que pediria a vida de seu filho mais querido em troca da salvação de nossos espíritos, que, segundo essas mesmas crenças, estão tão longe desse mesmo Deus?
Na verdade, o que Jesus veio nos trazer foi a capacidade de vermos a possibilidade de também desenvolvermos nossa Centelha Divina, atingindo ao final de nossas vidas encarnadas o nosso próprio estado Crístico. Foi a certeza de nossas reencarnações, passadas e futuras, e de que a todos nós nos é dado o poder de evoluir e atingir nossa plena luminosidade ao final de um certo número de vidas.
A primeira coisa que devemos lembrar é que na Umbanda não temos a figura do pecado e, portanto, também não temos a culpa. Temos na Umbanda é a responsabilidade pelos nossos atos. Por isso mesmo é que Cristo ao vir e morrer na cruz em um sacrifício ele veio nos mostrar que o Espírito será reencarnado para a continuidade de seu aprendizado. E isto é o ensinamento maior de Cristo. Morre o corpo denso, mas sobrevive o Espírito que é a forma mais sutil da Energia Vital, do Fluido Universal.
Assim, a ressurreição é uma garantia de que, a cada novo reencarnar, nossa evolução estará em um estado de maior elevação espiritual. O aparecimento de Cristo para Madalena e, posteriormente para seus apóstolos, ele vem nos mostrar a possibilidade de comunicação que temos com Espíritos e a verdade de eles voltarem à vida com a finalidade de dar continuidade ao processo de evolução. Sempre voltamos em condições de maior nível de evolução. O simbolismo da Paixão de Cristo enquanto uma forma de demonstrar que a ressurreição do Espírito. Quando se diz que Cristo veio para resgatar os pecados do mundo não significa que os pecados do mundo desapareceriam após sua vinda. Significa sim, que à medida que nossos espíritos forem aprendendo a sua doutrina, o seu Evangelho, estaremos mais evoluídos. Cristo por isso mesmo veio para nos mostrar que nesse mundo os Espíritos não vêm para sofrer ou pagar, mas para aprender e se reconciliar com suas vidas passadas. É um aprendizado de resignação e de fé. Teremos assim em vidas futuras a possibilidade de assumir as responsabilidades que tivemos em vidas passadas e aprender com o novo período de vida encarnada a superar aquelas que eram nossas deficiências espirituais. Nossa vida espiritual é uma espiral ascendente, rumo ao Fluido Universal Infinito, que é nossa Origem e nosso Destino, Deus.
O cumprimento da missão de Cristo enquanto filho de Deus, que veio como cordeiro de Deus para sacrificar-se pelo mundo, teve de contar, entre os personagens que participaram direta ou indiretamente de sua vida, com diferentes e importantes papéis entre eles. Assim, o fato dos sacerdotes hebreus terem tomado a atitude de entregar Jesus - o Cristo – nada mais fizeram do que aquilo que estava determinado. Quando Judas vai e entrega Cristo, está cumprindo uma das partes mais árduas da missão Crística: a de permitir que Cristo fosse preso, na calada da noite, para passar pelo seu Calvário e consumar sua missão.
Quando Jesus, ao expirar, pronuncia as palavras “Consumatun est” (está finalizado, está consumado) ele não está, como já vimos anteriormente referindo-se à finalização do sopro da vida naquele corpo denso – de Jesus – mas à missão de Cristificação de Jesus. Ali o homem deixa definitivamente de existir para passar a existir somente a Energia Crística, o Cristo.
Assim, a sexta feira da Paixão não pode ser vista como um momento de tristeza, mas de alegria; não de culpa mas de libertação pois foi exemplo maior de Jesus que nos demonstrou que o homem pode chegar até onde ele próprio chegou. Jesus veio nos ensinar isso, e conseguiu, pois se não o tivesse conseguido sua mensagem não estaria presente por mais de dois milênios e até hoje sem que tenhamos conseguir aprender em toda a profundidade seus ensinamentos. Essa é a nossa alegria que se consuma exatamente na sexta feira da Paixão.
Cristo nos ensina que teremos condições de superar nossas deficiências espirituais e, plenamente desenvolvidos, luminosos e sábios nos colocaremos frente a Deus. Ensina que temos salvação sim, que nenhum Espírito se perde nesse mundo, que nos elevaremos ao seu nível sim. Então esse é um momento que deveríamos comemorar as oportunidades que Jesus – o Cristo- nos veio trazer.
Ainda é um momento de alegria quando Cristo nos mostra que o Espírito é imortal, ao se mostrar aos seus discípulos como uma luz com forma de Jesus (perispírito), apenas aumenta sua materialidade a mandar que Tomé tocasse suas chagas. E por que Cristo se mostra sob a forma de Jesus? Porque somente assim os apóstolos poderiam reconhecê-lo. O que mais queremos para comemorar? Cristo nos mostrou o nível de evolução espiritual que poderemos chegar que é o de essência fluídica extremamente sutil, intocável, enfim plenamente luminoso e sábio.
Assim, quando Cristo veio há mais de 2000 anos, não veio apenas no sentido estrito de apagar os pecados da humanidade, pois, como vimos eles continuam a acontecer, mas veio no sentido amplo de nos mostrar o caminho da nossa evolução. Demonstremos nosso agradecimento, nossa alegria e nossa compreensão sobre a missão Crística de Jesus na terra.
Na Umbanda podemos demonstrar toda essa compreensão da missão Crística ao compreendermos a missão de nossa Religião na Terra: a manifestação do Espírito para a prática da Caridade. Pretos Velhos, Caboclos, Exus, Crianças e outras entidades de Luz, que se apresentam para os trabalhos na Umbanda, ajudam-nos a obter essa compreensão através dos seus passes de harmonização, conselhos, de seu apoio nos momentos difíceis e sempre servindo para nós como exemplos de Espíritos em estagio superior de evolução.
DEUS É TÃO BOM QUE MESMO AQUELES QUE NÃO ACREDITAM EM DEUS UM DIA VERÃO A DEUS."
Para o Padre Jesuíta, Paulo Umberto Stumpf (Reitor da Escola Superior Dom Helder Câmara), embora existam profundas divergências doutrinárias entre a Igreja Católica e a Umbanda, o elo que possibilita o diálogo e a fraternidade entre todos é a caridade.
A caridade, segundo ele, deve ser entendida como ações de solidariedade, em prol da construção de uma sociedade sempre mais justa e feliz.
Caridade, segundo o Reitor, com relação a credos diferentes da nossa fé, é tolerância, respeito, valorização da pessoa humana enquanto tal. Além disso, segundo o Reitor, a Umbanda deve ser respeitada como uma expressão religiosa que deu a afrobrasileiros um sentido existencial e de resistência diante da dominação cultural européia.
Um detalhe muito importante da Teoria de Maslow é que ela diz que a pessoa tem que ter a sua necessidade do nível inferior satisfeita, ou quase integralmente satisfeita, para sentir a necessidade do nível superior. Ou seja: a pessoa que não tem suas necessidades de segurança satisfeitas não sente ainda necessidades sociais. E assim por diante.
Nas palavras do próprio Maslow:
"... à medida que os aspectos básicos que formam a qualidade de vida são preenchidos, podem deslocar seu desejo para aspirações cada vez mais elevadas."
Consciente dessas necessidades e desejos do ser humano, a Umbanda inicia o seu contato pela base da pirâmide, sendo que, em todos os instantes o conjunto de suas soluções sempre possibilitam a antevisão ou a possibilidade de ascensão para os níveis superiores da hierarquia proposta na teoria de Maslow.
Como estamos falando de Umbanda e por consequência de espiritualidade, podemos acrescentar, na base da pirâmide, junto as necessidades fisiológicas (alimentação e sobrevivência), as dores e sofrimentos psicológicos, emocionais e espirituais dos indivíduos. Assim fazemos, pois embora largo o portal da Umbanda para todo tipo de consciência, o caminho, que leva as pessoas a religião é estreito, pontuado invariavelmente pela dor e o sofrimento. Os que entram, pela primeira vez, em um terreiro de Umbanda, buscam respostas para as necessidades da base da pirâmide de Maslow, raros são os que chegam a ela, querendo atender os desejos do cume (auto-realização).
Ao conquistar a estabilidade das necessidades da base da pirâmide, o então consulente ou visitante, deseja manter de forma perene o estado alcançado e assim se torna adepto, resolvendo as necessidades do segundo nível hierárquico da pirâmide, Segurança.
Como adepto ele inicia uma troca e uma efetiva participação na coletividade e suas diversas atividades, realizando os desejos e necessidades do terceiro nível hierárquico, ou seja o Social. Plenamente adaptado a religião e sua coletividade, o próximo nível de satisfação se manifesta e Estima (Status), passa ser a palavra-chave para sua motivação.
Para o cume da pirâmide ser alcançado, depende exclusivamente do próprio adepto. Faz-se mister, ter apreendido uma visão da essência da Umbanda em detrimento da forma, conquistado evolução e aurido valores espirituais elevados. Parece simples, mas não é fácil.
A solução holística, como denomino o processo de atendimento, que a Umbanda realiza, as necessidades identificadas pela Teoria de Maslow, se consubstancia na integralidade intríseca ao 'modus operandi' dos trabalhos em um terreiro.
Senão, vejamos:
a) No atendimento espiritual, as entidades sempre escutam e tentam apresentar soluções para os problemas enfrentados pelos consulentes e localizados na base da pirâmide (necessidades da vida material, emocional e psíquica);
b) A duração do tratamento e a assiduidade da frequência, imputam em atender os quesitos do nível de Segurança;
c) No âmbito do nível Social, podemos incluir os ensinamentos e orientações para vida que são repassados e a oportunidade do exercício dessess valores espirituais, morais, éticos e de cidadania, dentro e fora da própria coletividade.
d) Os ritos, a liturgia, os trabalhos mediúnicos e a vivência ativa na religião, geram a satisfação das necessidades do nível Estima (Status), além de permitir ao adepto um posicionamento de umbadista consciente e cidadão planetário.
e) A Auto-realização como, já explicitamos é pessoal e intransferível e consequência do auto-aperfeiçoamento do adepto.
Coadjuvantes primordiais nesse processo e reverberadores para aplicação dessa solução holística em seus adeptos, consulentes e frequentadores de seus terreiros, os dirigentes (Pais/Mães-de-Santo) devem estar plenamente cônscios de seus papéis e responsabilidades de facilitadores e orientadores.
Antes deles, nós umbandistas (os filhos-de-santo), devemos estar sempre alertas e conscientes de como permitimos, que essa facilitação ocorra, na forma como vivemos este relacionamento com os facilitadores e o que entregamos, de nós mesmos, para que esses orientadores nos conduzam no caminho espiritual.
Desde de que o mundo é mundo e religião existe, os arquétipos farisaicos, o fundamentalismo e os mercadores da fé estão servindo de modelo e sendo copiados indiscriminadamente. Devemos sempre cuidar para não nos tornarmos nenhum deles e não deixarmos nos envolver por ninguém, que assim proceda.
No universo religioso e da espiritualidade institucionalizada, não podemos deixar de concordar, que infelizmente nos deparamos com realidades como as que estão bem definidas na entrevista fornecida por, um dos Mestres do Budismo Tibetano da atualidade, Lama Dzongsar Khyentse Rinpoche (trecho adaptado):
"Vivemos em um mundo onde somos atormentados pela constante insegurança. A espiritualidade tornou-se um negócio, então os dirigentes espirituais (...) sempre sentem a necessidade de gerar mais negócios. Dada esta insegurança, sabendo do ponto fraco das pessoas, é bem fácil vender espiritualidade. Todo homem ou mulher de negócios, estou certo, sabe o que leva a se vender coisas. Primeiro, você diz às pessoas que há algo que elas devem ter, algo que elas não têm. Então, você lhes diz que o lugar para comprar é aqui, de você. Nós temos tudo que você precisa. O Buddha disse: "Não confie na pessoa, mas confie nos ensinamentos. Não confie nas palavras, mas confie no significado." Este é um grande conselho. Quando entramos no caminho espiritual, é importante sermos muito cuidadosos".
Esses são realidades tristes e lamentáveis. Experiências que podemos nos poupar se estivermos vigilantes. Uma das vacinas para se detectar essas discrepâncias e não se tornar vítima desses modelos de pessoas é utilizar com os dirigentes espirituais o seguinte crivo, ou seja, estar atento para a manifestação das seguintes características:
1) Querer que a sua verdade, seja o certo incondicional para todos;
2) O seu certo, não pode ser contrariado de forma nenhuma.
3) Querer ganhar sempre;
4) Não querer perder nunca.
5) Agir na frente das pessoas de uma forma, por trás de outra;
6) Ter dois pesos e duas medidas em seus julgamentos.
7) Fomentar, de alguma forma, a idolatria, para si.
8) Propaganda exacerbada dos fatos e ocorrências, sempre maravilhosas de si mesmo, dos seus dons espirituais e da espiritualidade ao seu redor;
9) Não enfrentamento do que está errado.
10) Correção e ajustes apenas do que estiver de acordo com o seu interesse pessoal.
Por, outro lado, os umbandistas, devem aprender a separar a religião, o mundo espiritual, das pessoas, do ser humano, que são os dirigentes de um terreiro.
Iguais a nós, eles são cheios de defeitos, falhas e com as mesmas necessidades e desejos. Se nós erramos, eles também erram. Óbvio e elementar.
Idolatria, fé cega, obediência incondicional e dedicação exclusiva jamais devem ser atitudes adotadas pelo adepto.
As responsabilidades dos dirigentes de terreiro são grandes e as suas ações na orientação e direcionamento de almas, devem ser isentos de interesses pessoais e objetivos próprios, que não sejam, o de servirem a coletividade e seus integrantes, quer queiram ou não.
O movimento umbandista, não está livre do farisaísmo, do fundamentalismo e tão pouco dos mercadores da fé.
Por outro lado a Umbanda, nada tem haver com isso, a religião oferece todo um conjunto de oportunidades para o religare com o Divino e o Sagrado. O plano do mundo espiritual é aplicado, independente dessas discrepâncias e a falta de rumo de alguns, profundo e abrangente, este plano tem como objetivo, colaborar prioritariamente, com a evolução individual e coletiva, não só dos seus adeptos e dirigentes, mas do planeta.
Ao tratar a pirâmide das necessidades e desejos de forma integral e holística, fornecendo orientações seguras para um caminho espiritual profícuo e evolutivo, a Umbanda oferece a todos, as ferramentas necessárias para auto-realização e armas adequadas para uma vigilância permanente as possíveis armadilhas que se apresentem. Maslow e Buda que o digam.
TEXTO EXTRAIDO DO BLOG http://umbandasemmisterio.blogspot.com/2006/11/maslow-buda-e-umbanda.html do Pai Caio de Omulu