PONTO ESTILIZADO DO TEMPLO

PONTO ESTILIZADO DO TEMPLO

segunda-feira, 28 de março de 2011

UMBANDA - SUA FACE

1. A Umbanda crê num Ser Supremo, o Deus único criador de todas as religiões monoteístas. Os Sete Orixás são emanações da Divindade, como todos os seres criados.


2. O propósito maior dos seres criados é a Evolução, o progresso rumo à Luz Divina. Isso se dá através das vidas sucessivas - a Lei da Reencarnação, o caminho do aperfeiçoamento.


3. Existe uma Lei de Justiça universal, que determina a cada um colher o fruto de suas ações, que é conhecida como Lei do Carma.


4. A Umbanda se rege pela Lei da Fraternidade Universal: todos os seres são irmãos por terem a mesma origem, e a cada um devemos fazer o que gostaríamos que a nós fosse feito.


5. A Umbanda possui uma identidade própria, e não se confunde com outras religiões ou cultos, embora a todos respeite fraternalmente, partilhando alguns princípios com muitos deles (1).


6. A Umbanda está a serviço da Lei Divina, e só visa ao Bem. Qualquer ação que não respeite o livro-arbítrio das criaturas, que implique em malefício ou prejuízo de alguém, ou se utilize de magia negativa, não é Umbanda.


7. A Umbanda não realiza em qualquer hipótese o sacrifício ritualístico de animais, nem utiliza quaisquer elementos destes em ritos, oferendas ou trabalhos.


8. A Umbanda não preconiza a colocação de despachos ou oferendas em esquinas urbanas, e sua reverência às Forças da Natureza implica em preservação e respeito a todos os ambientes naturais da Terra.


9. Todo o serviço da Umbanda é de caridade, jamais cobrando ou aceitando retribuição de qualquer espécie por atendimentos, consultas ou trabalhos. Quem cobra por serviço espiritual não é umbandista.


Um espírito amigo.


EXTRAÍDO DO LIVRO "JARDIM DOS ORIXÁS" DE RAMATIS

PSICOGRAFIA NORBERTO PEIXOTO

domingo, 27 de março de 2011

UM ESTUDO SOBRE OS ORIXÁS NA UMBANDA

Para os iorubás, a tradução literal de Orixá poderia ser: “Senhor da cabeça” ou “Senhor da luz” (Arashá: Ara = Luz + Shá = Senhor/ Orixá: Ori = Cabeça + = Senhor). Na verdade, acho impossível falar sobre Orixás sem considerarmos o contexto histórico e cultural das religiões africanistas, que mencionaremos modesta e superficialmente: “uma visão simplificada”, conforme anuncia o subtítulo. Esse contexto é o reforçador do entendimento, para muitos umbandistas, de que os Orixás são espíritos altamente evoluídos e que já tiveram existência corpórea na Terra. Entretanto, também há aqueles que afirmam que Orixás são emanações da energia divina, como diferentes aspectos dessa mesma energia, e nunca foram “pessoas”, nunca foram seres humanos individualizados. Por outro lado, existem até versões que vislumbram, nos Orixás, semelhanças e identificações com divindades de culturas muito antigas: para os defensores dessa vertente, podemos citar, como exemplo, a correspondência entre Zeus (deus grego do trovão e dos raios, impulsivo e sensual, que tem como símbolo um machado duplo) e Xangô: divindade iorubá que governa raios e trovões, amante ardoroso, que tem como símbolo um oxé (machado de duas lâminas).
A polêmica não é pequena, e já deu curso a inúmeros debates acalorados. Não temos a resposta final, mas respeitamos as diferentes versões apresentadas pelos estudiosos da Umbanda.

Os Orixás africanos: uma visão simplificada

Originariamente, o conceito de Orixá poderia ser entendido como um objeto de culto à ancestralidade dos iorubás, com a transformação em divindade de um determinado antepassado – não qualquer um, mas aquele com descendência numerosa e socialmente importante para a comunidade. Essa “divinização” ocorreria em um momento de paroxismo existencial ou emocional (raiva, medo, tristeza). Ogum, por exemplo, antigo soberano da localidade de Irê, teria se transformado em Orixá depois de transtornado por culpa, arrependimento e tristeza, após um ataque de fúria que o fez aniquilar sua cidade. Quanto a Xangô, segundo consta, teria chegado à divinização como Orixá ao deixar seu reino, Oyó, com a companhia da esposa Oiá, sentindo-se abandonado e desmerecido. Essas situações dramáticas, esses momentos de profunda transformação na vida do indivíduo, levariam, entre outras coisas, à aquisição de vínculos com objetos ou forças da natureza. A atribuição do controle dos raios a Xangô, a representação da pedra do raio (e das pedreiras como seu ponto de força), por exemplo, teriam explicação nessa associação de poder divino (e desses objetos ou forças) ao Orixá.

A história desses processos de transformação do humano em divino deu origem a uma série de lendas, que registram a atribuição de características peculiares ao personagem, como a manipulação dos metais a Ogum, ou a caça e seus apetrechos a Oxossi. O poder excepcional e a raiz familiar atribuídos ao Orixá explicam a sua “força” e dão um sentido comunitário ao culto, que acaba assumindo uma distribuição regional bastante marcada: em algumas regiões da África, estão presentes divindades que não estão em outras localidades. A posição de destaque de um Orixá vai depender, então, das características históricas, políticas e culturais de uma dada região; papéis atribuídos a uma determinada divindade podem ser assumidos por outra, de acordo com sua importância local. Iemanjá, por exemplo, era muito cultuada na região de Egbá e muito pouco em Ijexá, onde predomina o culto a Oxum.

Ainda descrevendo seu surgimento como figura mítica, ao evoluir da condição humana para a divina, o Orixá passaria a utilizar-se do corpo físico de um de seus descendentes (o elégùn) para manifestar-se, reassumir características de sua personalidade original e desempenhar o papel simbólico de “ancião”, responsável por resolver problemas, arbitrar conflitos, reforçar normas de conduta e manter a harmonia do grupo social.

Equalizando a atuação dos diversos Orixás, estaria Olodumaré, o Deus Supremo, inalcançável pelos humanos, cujas necessidades deveriam ser contempladas pelos Orixás, criados por ele para essa função e investidos de atribuições/ papéis/ferramentas particulares a cada um (a guarda das pedreiras/ o exercício da justiça/ o uso do machado - no caso de Xangô), numa espécie de representação das manifestações da natureza e do poder divino. Reunidas, as diferentes características dos Orixás acabam representando um conjunto de arquétipos, complementares entre si.

As religiões africanistas no Brasil e o sincretismo religioso

Durante mais de três séculos, milhares de africanos - tornados cativos - foram trazidos ao Brasil. Sua presença agregou à cultura brasileira elementos presentes até hoje na linguagem, na culinária, nas tradições sociais... e na religião – esta, a princípio, como um efeito inesperado: era indesejável, até certo ponto, o “culto estranho a divindades estranhas”; inúmeras iniciativas de doutrinação católica e de repressão aos cultos africanistas estão registradas na História. Por outro lado, nuances distintas de crença caracterizavam as diferentes nações (kêto, nagô, etc). Então, até certo ponto, a prática religiosa de raiz tribal era incentivada pelos escravagistas como forma de manter certo senso de identidade e rivalidade entre as diferentes etnias cativas – não como uma forma de condescendência inocente, mas como uma avaliação calculista de que estimular dissonâncias e rivalidades étnicas era um instrumento de fragmentação social entre a população escrava, impedindo a formação de grandes grupos e o surgimento de revoltas e levantes.

Por outro lado, numa permanente ambivalência, havia a necessidade de “catequização” dos cativos, atendendo a finalidades diversas: era uma afirmação “aceitável” para justificar a vinda de tantos africanos às terras brasileiras; era, também, recomendável evitar que os negros sofressem o mesmo processo por parte de colonizadores protestantes que ameaçavam infiltrar-se no território (fazia-se imperioso catequizá-los antes que os protestantes o fizessem). Por fim, ainda havia o medo das crenças africanistas, julgadas bárbaras.

A contradição e a ambivalência entre os movimentos de catequização compulsória e de tolerância calculada permaneceram como um pêndulo, oscilando durante todo o período da escravatura. Pergunto-me se essa ambivalência não estaria refletida, até hoje, no olhar de grande parte da população brasileira – que às vezes procura a Umbanda ou o Candomblé quando necessário ou urgente, mas não deixa de se afirmar espírita, católica, protestante ou o que seja, quando indagada sobre sua confissão religiosa.

O alvorecer da Umbanda e as menções aos Orixás

Em seu livro “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, publicado em 1933, Leal de Souza faz esta menção aos Orixás na Umbanda:

“Cada uma das sete linhas de umbanda e demanda tem vinte e um orixás.

O orixá é uma entidade de hierarquia superior e representa, em missões especiais (...) o alto chefe de sua linha. (...)

Os orixás não baixam sempre, sendo poucos os núcleos espíritas que os conhecem. (...) Em oito anos de trabalhos e pesquisas, só tive ocasião de ver dois orixás, um de Euxoce (Oxóssi), o outro de Ogum, o orixá Mallet.”

O livro anterior de Leal de Souza, “No Mundo dos Espíritos”, foi escrito em 1925 e seria o primeiro livro conhecido a fazer referência ao vocábulo Umbanda; nele, porém, não há citações referentes a Orixás. Pelo que vimos, no entendimento do autor, seriam espíritos de grande elevação, manifestando-se mediunicamente em ocasiões excepcionais. Muitos umbandistas, ainda hoje, pensam dessa forma, provavelmente derivada dos cultos africanos originais.

Os Orixás na Umbanda Esotérica

A corrente de pensamento que defende a chamada Umbanda Esotérica começou a se formar logo nas primeiras décadas do século XX, notoriamente durante o “1º Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda”, em 1941. Confesso minha incapacidade de compreensão de conhecimentos tão herméticos; acho sempre uma incógnita ler autores esotéricos, mesmo os recomendados pela minha Casa, como W. W. Matta e Silva. Alguns dirão que esoterismo é assim mesmo, que conhecimentos muito profundos são para poucos, que os iniciados precisam trilhar um longo caminho para ter acesso a um saber oculto, etc. Bem, se é assim, fico aqui me contentando em absorver a coisa toda pelas “beiradas” e apresentando os conteúdos que encontrei; fico devendo maiores interpretações de minha parte.

Podemos começar com F. Rivas Neto. Em seu livro, “Umbanda Proto-síntese Cósmica”, existe uma divisão de Orixás nestes sucessivos graus de hierarquia: “Orisha” Virginal, Causal, Refletor, Original, Supervisor, Intermediário e Ancestral. Pelo que pude entender, os Orixás que formam as Sete Linhas da Umbanda como conhecida na literatura (“Orixalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Yorimá, Yori e Yemanjá“) ocupam o status de Orisha Ancestral. Aparentemente, os Orishas descritos pelo autor são emanações da Divindade Suprema:

Nesse mesmo Cosmo Espiritual havia uma realidade acima de todos os Seres Espirituais, sendo essa a realidade absoluta, o Supremo Espírito, o Qual denominamos, sem defini-lo ou limitá-lo, como Deus. Assim, nesse Cosmo Espiritual, a Suprema Luz Espiritual estende suas Vibrações Espirituais aos primeiros 7 Puros Espíritos, na chamada Coroa Divina, ou seja, aquelas Potestades de Sublime Luz que estendem suas Vibrações a todos os Seres do Cosmo Espiritual. São os 7 Espíritos Virginais por nós denominados ORISHAS VIRGINAIS.

Roger Feraudy, por sua vez, é conhecido por seu rico trabalho artístico na área musical (integrou o conhecido Samba Trio) e por sua dedicação à Umbanda Esotérica na Fraternidade do Grande Coração; autor de vários livros, entre eles “Umbanda, essa desconhecida”, no qual declara:

Os Orixás são os grandes arquitetos siderais ou construtores de sistemas solares, e nós, seres humanos, devemos a eles nossa evolução intelectual e física.
São também chamados de Hierarquias Criadoras e se ocupam da construção do Universo. Completaram sua própria evolução em idades e universos pretéritos. Poderíamos dizer que, em épocas imemoriais, foram indivíduos como nós (guardadas as devidas situações de cada época, impensáveis para o homem atual).

Orixás são divindades, também conhecidos como os Mensageiros do Senhor ou Luz do Senhor ou ainda As Sete Emanações do Senhor. A origem do nome Orixá vem da palavra Purushá, do idioma sânscrito, o idioma sagrado que deu origem a todas as línguas, em sua raiz.


Já para o conhecido autor Rubens Saraceni,

A Umbanda prega que as divindades de Deus (os orixás) são seres Divinos dotados de faculdades e poderes superiores aos dos espíritos e tem nelas um dos seus fundamentos religiosos, recomendando o culto a elas e a prática de oferendas como uma das formas de reverenciá-las, já que são indissociadas da natureza terrestre ou Divina de tudo o que Deus criou.

O autor descreve a existência dos Sete Tronos de Deus: Trono da Fé (representado por Oxalá); o Trono do Amor (Oxum); o Trono do Conhecimento (Oxossi); o Trono da Justiça (Xangô); o Trono da Lei (Ogum); o Trono da Evolução (Obaluaê) e o Trono da Geração (Iemanjá).

Como vimos, não há correspondência exata entre os Tronos de Deus e as Sete Linhas mencionadas normalmente pela doutrina umbandista. O autor faz uma descrição dessas instâncias, que exemplifico aqui:

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo.

Até aí, tudo bem, né? Meu problema com os textos de Saraceni começam quando ele vai se aprofundando:

O Trono Regente Planetário se individualiza nos sete Tronos Essenciais, que projetam-se energética, magnética e vibratoriamente e criam sete linhas de forças ou irradiações bipolarizadas, pois surgem dois pólos diferenciados em positivo e negativo, irradiante e absorvente, ativo e passivo, masculino e feminino, universal e cósmico.
Uma dessas projeções é a do Trono da Justiça Divina que, ao irradiar-se, cria a linha de forças da Justiça, pontificada por Xangô e Egunitá (divindade natural cósmica do Fogo Divino).
Na linha elemental da Justiça, ígnea por excelência, Xangô e Egunitá são os pólos magnéticos opostos. Por isto eles se polarizam com a linha da Lei, que é eólica por excelência. Logo, Xangô polariza-se com a eólica Iansã e Egunitá polariza-se com o eólico Ogum, criando duas linhas mistas ou linhas regentes do Ritual de Umbanda Sagrada.
O Orixá Xangô é o Trono Natural da Justiça e está assentado no pólo positivo da linha do Fogo Divino, de onde se projeta e faz surgir sete hierarquias naturais de nível intermediário, pontificadas pelos Xangôs regentes dos pólos e níveis vibratórios intermediários da linha de forças da Justiça Divina. Estes sete Xangôs são Orixás Naturais; são regentes de níveis vibratórios; são multidimensionais e são irradiadores das qualidades, dos atributos e das atribuições do Orixá maior Xangô.

Então, né… acho que não peguei o “espírito da coisa”. Deve ser limitação minha. Muita gente curte o trabalho do Saraceni e utiliza seus conhecimentos com desenvoltura. Afinal, se o problema é hermetismo, o que não dizer de W. W. Matta e Silva? Autor consagrado, de influência notória dentro da Umbanda de orientação esotérica, Pai Matta deixou vários livros, como “Umbanda de Todos Nós”:

Vamos começar, portanto, demonstrando que SETE são realmente as Vibrações Originais ou Linhas e de SETE em SETE são os Orixás de cada uma.

Antes, porém, vamos dar uma definição do que sejam VIBRAÇÕES: São as manifestações de uma LEI em harmonia, que afere o Número, o Peso, a Quantidade e a Medida, do Átomo aos Turbilhões, emanadas em origem pelos SETE Seres de pura luz espiritual, ou seja, os SETE Espíritos de Deus (…)

Esta palavra, que é ORISHÁ ou ORISÁ, foi por contração, extraída da primitiva ORISHALÁ ou ORISA-NLÁ e tem sua origem nas línguas Árabes, Persa, Egípcia, Sânscrita, Vatan ou Adâmica etc., que havia chegado à raça negra, de outros povos, especialmente dos Árabes… (…)

Os Sete Espíritos de Deus coordenam essas vibrações que regem o movimento no Cosmos para todo os sistemas planetários, ou seja, do original, o Universo Máter (esta definição está “clara e hermética”. Depende do evolutivo de quem a leia).

Ficou esquisito? Pois é, como se trata de uma citação, conservei as maiúsculas, a caixa-alta e as frases exatamente como estão: sim, leitor, o texto é confuso – tanto pelo estilo peculiar (muita maiúscula, muita viagem, muita sucessão de idéias que vão, vão, vão e não voltam ao assunto proposto) quanto pelo próprio conteúdo, já que Orixá é mesmo um assunto complicado – como tudo o mais que se lê num livro de Matta e Silva. Deixo claro que não é desaprovação: é a confissão da minha incapacidade de compreender, fazer o quê?

Na verdade, podemos encontrar termos utilizados por Matta e Silva, Rivas Neto e Roger Feraudy nas obras da Teosofia, conjunto de conhecimentos filosóficos e religiosos sistematizados por Helena Blavatsky. Autores como Madame Blavatsky e Charles Webster Leadbeater publicaram numerosos livros sobre o assunto, e até hoje inúmeros estudiosos se esforçam para compreender esses conhecimentos, reunidos em sociedades e agremiações pelo mundo todo. Uma delas é a Sociedade Teosófica no Brasil. Muitas informações contidas nos autores da Umbanda Esotérica aparecem em obras como “A Doutrina Secreta”, “Glossário Teosófico” e muitas outras. Confesso que arrisquei a leitura d’A Doutrina Secreta, mas sucumbi à minha ignorância e às minhas limitações. Quanto ao Rubens Saraceni, não consegui encontrar fontes bibliográficas que possam ter dado raiz à sua produção literária. Tive a impressão de que se trata de material da lavra pessoal do autor e de seus longos anos de experiência sacerdotal. Acho que, no cenário atual, a Umbanda Esotérica ainda é para a compreensão de poucos, mesmo que merecedora de estudo e admiração.

Encontrei maior facilidade com as explicações de Ramatis:

“Os orixás são aspectos da Divindade, altas vibrações cósmicas que se rebaixam até nós, propiciando a apresentação da vida em todo o Universo. Cada um dos orixás tem peculiaridades e correspondências próprias na Terra: cor, som, mineral (…) que fundamentam a magia na Umbanda por linha vibratória” (“A Missão da Umbanda”).

E, por fim, encontrei mais alento nas palavras da querida Mãe Iassan Ayporê Pery, dirigente do Centro Espiritualista Caboclo Pery, em sua obra Umbanda Mitos e Realidade:

A compreensão básica de Orixá na Umbanda é de um complexo de energias, manifestado na terra através da força da natureza criada por Deus.(...)

A Umbanda cultua um único Deus, logo é monoteísta e os Orixás não são divindades ou semideuses, mas sim, complexos vibratórios e energéticos, criados e emanados do Astral Superior, (...)

Ordinariamente entendemos a manifestação do Orixá, através das forças da natureza, é o máximo que conseguimos, pois em sua essência verdadeira é pura luz. E como entender isso? É como querer entender e explicar Deus, tarefa impossível a qualquer um de nós. (…)

Temos a tendência a acreditar ou pensar que cada Orixá é o reino ao qual está associado, entretanto Orixá é muito mais do que isso, e é exatamente esse “muito mais do que isso” que não conseguimos explicar em palavras; mas, grosseiramente falando, é o amor de Deus espalhado e ao mesmo tempo condensado em 7 raios básicos, destinados ao planeta Terra, que objetivam, ao chegarem aqui traduzidos pelos diversos planos e sub-planos pelos quais passaram, nos auxiliar no nosso karma, e que se manifestam através das forças e reinos da natureza. O Orixá está na natureza, mas não é apenas a natureza. (…)

Na realidade o que a Umbanda fez foi “organizar” as manifestações divinas, em uma linguagem que pudéssemos compreender. (…)

Impressão pessoal

Acredito que, ao contrário da crença iorubá ou das palavras de Leal de Souza, os Orixás propriamente ditos não são nossos ancestrais desencarnados ou espíritos diferenciados, que se destacaram quanto à velocidade do processo evolutivo. Por outro lado, se pensarmos que constituem um grupo de seres inteligentes, é questão de lógica imaginarmos que, um dia, foram criados “simples e ignorantes” como todos os demais espíritos – mesmo que há “milhões de milênios”, na noite dos tempos. Pelo menos, é o que encontramos na Questão 115 do “Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.

Acrescento que achei sensacionais as palavras de Mãe Iassan; deu seu recado de forma simples e objetiva (quisera eu ter esse dom, e talvez entediasse menos os meus leitores…). Se tivesse que escolher uma abordagem, ficaria com ela. Acredito, também, que, apesar de não devermos deixar de lado o estudo e a reflexão sobre o assunto, precisamos manter a busca pelo contato com a irradiação divina que todos nós recebemos por parte dos Orixás, a todo momento. Creio que isso seja indispensável, e todos deveríamos ter uma imagem mental, uma referência, um “link” rápido para conexão com os Orixás. No que você pensa, por exemplo, ao ouvir um ponto de Oxóssi? Que imagem vem à sua mente quando faz uma prece a Iemanjá? E Nanã? Que sentimentos ou sensações físicas aparecem ao concentrar sua atenção no congá, na imagem de Jesus representando Oxalá? Afinal, quem são essas figuras pra você? qual a importância delas na sua vida, no seu cotidiano?

A reflexão não acaba aqui – muito menos o assunto: novos posts falarão um pouco sobre as Sete Linhas de Umbanda, os Orixás que cultuamos (e suas características), algumas considerações sobre Orixás de cabeça e de nascimento… e o que mais conseguir encontrar. É material pra mais de metro, mas em tempo oportuno vamos publicar aqui no blog!

FONTES:

Pierre Fatumbi Verger, “Orixás”, Editora Corrupio, 2002

Leal de Souza, “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, Editora do Conhecimento, 2008 (2ª edição)

F. Rivas Neto, “Umbanda Proto-síntese Cósmica”, Editora Pensamento-Cultrix, 2007

Roger Feraudy, “Umbanda, essa desconhecida”, Editora do Conhecimento, 2006

Rubens Saraceni, “Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada”, Editora Madras, 2003

W. W. Matta e Silva, “Umbanda de Todos Nós”, Icone Editora, 2009

Norberto Peixoto, “A Missão da Umbanda”, pelo espírito Ramatis, Editora do Conhecimento, 2006

Mãe Iassan Ayporê Pery, “Umbanda Mitos e Realidade”, disponível para download no site do Centro Espiritualista Caboclo Pery

domingo, 20 de março de 2011

MEU CABOCLO QUERIDO

Eram 18:00H e Jorge já dava os últimos retoques em seu terno, para assistir a mais uma reunião na Igreja Evangélica Neopentescostal que freqüentava há um ano.

Homem trabalhador, desde jovem já exercia a profissão de carpinteiro. Hoje, aos 60 anos, com esposa e um neto, tinha vida humilde e tranqüila, apesar dos problemas de saúde e finanças que o afligiam.
Carregava uma grande mágoa em seu coração. Tendo sido médium umbandista atuante por mais de 20 anos, deparou-se com uma enfermidade que atingiu violentamente sua única e amada filha. Rogou a Deus, a seu Guia Espiritual e as demais entidades espirituais do terreiro em que trabalhava que a curassem. Não logrou êxito, perdendo a presença física de sua filha em 6 meses.

Revoltado com a tragédia, abandonou a Umbanda e afirmou que jamais voltaria a religião, pois se ali estivessem espíritos do Bem e Deus, não teriam deixado que tão grande desgraça lhe atingisse.
Sob grande instabilidade psíquica e induzido por fanáticos evangélicos, lá estava ele, ao lado da esposa, nos cultos da igreja, cujo “ministro religioso” exortava todos os presentes a exconjurarem os espíritos malignos da macumba, além de prometer a salvação e ....... pedir dinheiro. Jorge não reclama, dando seu dízimo e ofertas com dificuldade, mas acreditando ser o caminho a seguir.

Em suas horas de descanso, na paz do convívio familiar, Jorge quase sempre ouvia uma voz estranha, que lhe dizia: “sempre estarei ao seu lado”. Comentava o fato com a esposa que, que influenciada pelo fanatismo religioso, dava como resposta que deveria ser um espírito maligno que o acompanhava, aconselhando- o a comentar o assunto com o pastor da igreja.
Resolveu seguir os conselhos de sua mulher, procurando, durante um culto, esclarecimentos com o “missionário”.
Este informou-lhe que as ocorrências eram obra do diabo, solicitando a Jorge que aumentasse o valor de suas ofertas para que Deus pudesse operar em obra e graça na sua vida (a vida de Jorge).
Com imensa dificuldade, dobrou o valor do dízimo e das ofertas. Contudo a voz insistentemente lhe invadia, dizendo: “sempre estarei ao seu lado”.

Numa tarde de domingo, após o almoço, Jorge preparava-se para descansar em seu leito, quando bruscamente foi vitimado por uma forte dor no peito, próxima ao coração. Caiu desmaiado, sendo acudido por sua esposa, que aos berros rogava ajuda dos vizinhos.
Colocado em um táxi, rumou às pressas para o hospital mais próximo, a fim de ser atendido.
Após o pronto-atendimento e posteriores exames clínicos, foi diagnosticado uma insuficiência cardíaca provocado por uma grande lesão nas artérias do coração. O caso solicitava o concurso premente de intervenção cirúrgica, sem a qual Jorge certamente sucumbiria.

A operação foi marcada. Sua esposa, apavorada com o cenário, encaminhou-se para a igreja, a fim de solicitar os préstimos religiosos do pastor. Foi atendida e aconselhada pelo missionário a aumentar as contribuições pecumárias (dinheiro) e a fazer um desafio a Deus pela cura de Jorge.
Desolada com o pouco caso dado à situação, voltou ao hospital, sendo ali informada que seu marido piorava e que, por isto, tinham antecipado a cirurgia.

Encostou-se a uma cadeira da recepção e começou a rogar a Deus pela saúde do amado esposo. Ouviu então uma voz que lhe tocou como verdadeiro bálsamo consolador, que dizia: “eu sempre estarei com ele”.
Já na sala de cirurgia, Jorge, ainda acordado, pediu a Deus que o deixasse viver, pois tinha uma esposa e neto para sustentar.

Observando a movimentação dos médicos que preparavam a anestesia geral, Jorge notou intenso feixe de luz que surgia do canto direito daquele recinto. De cores variadas e predominância do violeta, a luminescência pouco a pouco foi se condensando na figura altiva de um Índio, que empunhando uma moringa nas mãos, se aproximou do leito. Jorge chamava pelos médicos, que não lhe escutavam. Perguntava-se mentalmente quem era aquele indígena.

Do interior da moringa, a Entidade Espiritual retirou um líquido verde e extremamente cintilante, derramando-o sobre o peito de Jorge, além de fazê-lo ingerir com pouco de substância. Ato contínuo, o espírito desapareceu e Jorge adormeceu.
Quatro horas depois, despertou na enfermaria, notando a presença do médico e da esposa.

Perguntou sobre a operação e, para seu espanto, o médico que ali estava disse-lhe que a cirurgia fora cancelada, uma vez que momentos antes da aplicação da anestesia geral, o cirurgião-médico “cismou” em realizar novos exames, os quais não acusaram qualquer lesão nas artérias coronárias.
Também relatou a Jorge que durante os preparativos para a operação, a equipe cirúrgica sentiu uma enorme fragrância de ervas no recinto, cuja origem não conseguiram detectar.

Passados 2 meses de susto, Jorge, sentado sob a copa da mangueira em seu quintal, observava o lindo luar que despontava no céu estrelado. Indagava-se sobre os acontecimentos passados, procurando uma resposta sensata para o que ocorrera; a cena na sala de cirurgias não lhe saía da mente.

A brisa corria suave, e com ela uma voz chegou aos ouvidos de Jorge: “sempre estarei com você”. Virou-se na direção dos arbustos de seu quintal e, estático, visualizou a presença do mesmo índio presente no hospital. A entidade espiritual, aproximando- se, informou a Jorge ser seu Guia Espiritual, Caboclo nominado aqui de “Y”, e que recebera ordens superiores para cura-lo da enfermidade.
Trazia também informações sobre sua querida filha, que estava bem e envolvida em trabalhos assistenciais dentro da Umbanda, salientando a Jorge que a doença de sua filha era processo depurador irreversível, motivo pelo qual não havia como interferir.

Jorge, profundamente emocionado, não conseguia expressar-se. O Caboclo “Y” disse-lhe que respeitava sua mudança de religião, mas onde estivesse, ele, o Caboclo, sempre estaria a seu lado, em labor de amparo e aconselhamento.
O carpinteiro Jorge, sensibilizado pelas palavras do amigo espiritual, pediu desculpas pela falta de fé nos Guias e Protetores da Umbanda.

O Caboclo “Y” sorriu, ao mesmo tempo em que começava a perder sua forma ideoplástica por entre a vegetação.
Jorge observando a grande beleza cenográfica espiritual, relembrava os tempos de terreiro; as pessoas sendo auxiliadas; sua querida filha cambonando o Caboclo “Y”; a caridade pura e simples se manifestando, sem dízimos, ofertas, ou barganhas com Deus.

Jorge voltou ao seu antigo terreiro, sendo calorosamente recepcionado pelos amigos espirituais e carnais que o aguardavam.

Após cada sessão de caridade como não instrumento de expressão dos amigos espirituais, Jorge, feliz por mais um dia de amparo aos necessitados, e relembrando da fisionomia de seu guia-chefe, no silêncio de suas preces, sempre exclama:

“Meu Caboclo, meu querido”


O QUE É UMBANDA?


Por Alexandre Cumino

O texto abaixo é parte do conteúdo do livro História da Umbanda publicado em Agosto de 2010, Editora Madras.
Caso queiram repassar fiquem á vontade, peço apenas para não ocultar a fonte.

Definir o que é Religião não é tarefa fácil, definir o que é a Religião de Umbanda é muito mais complexo. Existe uma dificuldade em entender uma religião ainda em formação, na qual os elementos oriundos de outras culturas são, ainda, muito vivos e perceptíveis, o que faz parecer uma simples mistura de fatores diversos. No entanto, como diria Arthur Ramos, não existe religião pura[1], nem na essência e nem na forma, nenhuma outra teve origem diferente, “nada nasce do nada” ou melhor “nada se cria, tudo se transforma”. Novas religiões nascem da necessidade em atribuir novos significados a antigos símbolos, trazendo valores que possam dar um novo sentido a nossas vidas. Símbolos são um patrimônio da humanidade, que transcendem nossas visões individuais e limitadas, exercendo influência subjetiva em quem crê ou não nos mesmos, independente das mais variadas interpretações. Quem percebe que os símbolos são ancestrais, corre o risco de confundir o símbolo (atemporal) com sua interpretação (temporal), estes acabam por declarar que “sua interpretação (temporal) é milenar e ancestral (atemporal)”. Nossas interpretações são religiões, que nascem, crescem, evoluem, envelhecem e morrem, o que fica é símbolo e uma nova religião vai, com certeza reinterpretá-lo. Desta forma a Umbanda renova a interpretação para símbolos diversos; produzindo um novo significado, daí uma nova religião na qual antigos símbolos e novos valores se acomodam assumindo uma identidade única.

Para entender melhor estes símbolos, seus significado e formas pelas quais se acomodam nesta nova religião, nos fazemos a pergunta:

O que é Umbanda?

A pergunta não é nova, desde seu nascimento que procuram umbandistas e não umbandistas responder a esta pergunta. Ao longo destes 100 anos de Umbanda no Brasil, é possível colher diversas respostas, sob diferentes pontos de vista, paradigmas e interesses. A História da Umbanda nos ajuda entender que as diferentes interpretações também são influenciadas por questões regionais, sociais, políticas, econômicas e culturais.

“A Umbanda é um ritual religioso tão grande que
nem que mil mãos escrevessem por mil anos ininterruptos
esgotariam seus mistérios”
Rubens Saraceni. Umbanda o Ritual do Culto à Natureza, 1995.


  • “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”

Caboclo das Sete Encruzilhadas em seu médium Zélio de Moraes (15 de Novembro de 1908)

  • “Umbanda é Amor e Caridade”

Mãe Zilméia de Moraes em seus vários depoimentos para a Revista Espiritual de Umbanda, nas comemorações dos 97 anos de Umbanda e nas oportunidades que tive de estar junto dela, sempre foi esta a mesma definição dada para a Umbanda.

  • “Umbanda é a Escola da Vida”; “Umbanda é coisa séria, para gente séria”

Caboclo Mirin e seu médium Benjamim Figueiredo (Tenda Mirim, 1924)

  • “O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a pratica da caridade, libertando de obsessões, curando as moléstias de origem ou ligação espiritual, desmanchando os trabalhos da Magia Negra, e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos”

Leal de Souza (O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, 1933, p.49)

  • “Religião Afro-indo-católico-espírita-ocultista”

Arthur Ramos, Antropólogo e etnólogo (Arthur Ramos. O Negro Brasileiro, 2ª ed. Pp.175-76, 1940 e 1ª Ed. em 1934, in, BASTIDE, 1971)

  • “Umbanda é, demonstradamente, uma das maiores correntes do pensamento humano existentes na terra há mais de cem séculos, cuja raiz se perde na profundidade insondável das mais antigas filosofias.”

Diamantino Coelho Fernandes em sua tese apresentada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, O Espiritismo de Umbanda na Evolução dos Povos, como delegado e representante da Tenda Mirim, dia 19 de Outubro de 1941.
  • “O Espiritismo de Umbanda é... ao mesmo tempo Religião, Ciência e Filosofia”
Diamantino Coelho Fernandes em outra tese para o Primeiro Congresso, com o tema O Espiritismo de Umbanda como Religião, Ciência e Filosofia, também em nome da Tenda Espírita Mirim, dia 23 de Outubro de 1941.

  • “Umbanda é um ritual. Sua finalidade é o estudo e consequentemente a prática da magia.”; “Umbanda é o ritual indispensável à ação do homem no conhecimento de si mesmo e, consequentemente, no desbravamento do Universo, pois o Universo é um reflexo seu.”

Dr. Baptista de Oliveira, em memória apresentada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, com o tema Umbanda: Suas origens – Sua natureza e sua forma, dia 22 de Outubro de 1941.

  • “Umbanda – tanto quanto qualquer outra doutrina espiritualista, alicerça-se nos Mistérios Arcaicos, é uma só e mesma coisa – Iniciação.”

Antônio Flora Nogueira fez esta afirmação durante o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, em 25 de Outubro de 1941, registrado no livro de mesmo nome, p.257. E complementa ainda:
“Conforme tão eruditamente já foi exposto pelo espírito brilhante do operoso trabalhador da ‘Seara de Mirim’, Sr. Diamantino Coelho Fernandes, verifica-se que a lei-doutrina, ou mística, pertinente e inerente aos Mistérios Egípicios, Gregos, Aztecas, ou Incaicos – consiste numa única coisa, variando apenas a sua modalidade ritualística ou escola. Por isso não podemos concordar, quando um autor umbandista, embora culto e inteligente, afirma em seu livro que ‘Umbanda é um sincretismo, ou seja um sistema filosófico-religioso obtido pela fusão de todas as crenças universais’. Ademais, Umbanda existia como organização religiosa-iniciática, algumas centenas de milhares de anos antes da existência de religiões ou cultos organizados. Assim como o Ideal-Religioso-Iniciático foi lançado no continente africano pelos divinos reis ‘Kabirus’ que vieram das terras da Lemuria, de que a África era uma parte, outros divinos reis lançaram, como instrutores, a mesma semente iniciática junto de outros povos ou continentes.

  • “Umbanda é espiritismo prático, é Magia Branca, é sessão de espiritismo realizada em mesa ou terreiro, para a prática do bem”

Lourenço Braga, 1941 (Lourenço Braga. Umbanda e Quimbanda. Rio de Janeiro: Ed. Spiker, 1961, 12ª edição, p.68). Nesta mesma obra o autor faz observações interessantes sobre a Umbanda, que merecem nossa citação aqui abaixo:
Não se deve dizer – ‘Linha de Umbanda’ - , mas sim, - ‘Lei de Umbanda’ - ; Linhas são as 7 divisões de Umbanda.
‘Umbanda’ tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana. Sua significação era a seguinte: - fazer magia, por intermédio das forças invisíveis -, isto é, por intermédio das forças astrais, através de rituais de preceitos, de sinais cabalísticos, de cânticos, de música apropriada e de elementos outros, tais como sejam: - a água, o fogo, a fumaça, as bebidas, as comidas, os animais, objetos apropriados, etc.” p.12
“Essas organizações espirituais, ‘Umbanda’ e ‘Quimbanda’, vêm sofrendo várias modificações, desde a sua existência até à presente época, modificações essas acordes com a evolução dos espíritos reencarnados e com a marcha evolutiva do Planeta Terra. Assim é que, de acordo com as determinações do plano sideral, têm elas atualmente a organização apresentada neste livro (1941), a qual sofrerá ligeira alteração no ano 2.000 e profunda alteração no ano 2.200.” pp.14 e 15
“...Não, caros leitores, não se deixem empolgar e nem arrastar pelas inovações bizarras e nem tão pouco misturem Umbanda com Teosofia, Esoterismo ou Astrologia!” p. 15

Na obra Umbanda e Quimbanda – 2ª Parte, 1955, Lourenço Braga afirma ainda:

Meus irmãos em Deus, tudo no Universo é vibração. Deus é o criador. Ele pensa, mentaliza e cria. A própria matéria é fluido condensado, é a vibração do pensamento Divino que tomou forma, cristalizou-se.
Umbanda é pois uma vibração permanente, emanada da Consciência Cósmica ou pensamento Divino, que penetra no mundo espiritual, obedecendo a uma lei, através de cinco espécies de ondas, em posição vertical, obliqua e horizontal, atingindo assim o Plano Sideral. (p.17)

  • “Umbanda – sincretismo de todas as religiões do planeta”

Capitão José Álvares Pessoa, Presidente da Tenda Espírita São Jerônimo, durante a inauguração da Tenda Espírita Santo Agostinho, registrado no livro O Culto de Umbanda em Face da Lei (Rio de Janeiro: Biblioteca Espiritualista de Umbanda – UEUJ, 1944. P.127). Abaixo outras definições de Capitão Pessoa registradas em outra obra (José Álvares Pessoa. Umbanda religião do Brasil. São Paulo: Ed. Obelisco, 1960, p.84 e p.102):
“Umbanda é o milagre vivo diante dos nossos olhos deslumbrados; Umbanda é a ação do Cristo na sua jornada pelo planeta, realizando a magia divina em favor da humanidade que se debate no sofrimento e na dor. Umbanda é magia, e magia é a mola que move este mundo.” “Umbanda é a própria alma do mundo trabalhando em prol da regeneração dos homens.”
  • “A UMBANDA é hoje uma religião nacional, bem nossa, bem brasileira.”;

“A ‘Umbanda’ é uma ‘religião-ciência’, resultante da mescla de tradições, conhecimentos, cultos e ritualísticas oriundos do africanismo, do ameríndismo, do catolicismo e do espiritismo.”

Emanuel Zespo (Emanuel Zespo. O que é a Umbanda? Rio de Janeiro: Biblioteca Espiritualista Brasileira, 1946 – 2ª Ed. 1949. p.15 e 26)

Dando seqüência a esta definição o autor ainda explica:
“A Umbanda é uma religião porque possui culto, ritual, sacerdote, oferenda, e tudo quanto uma religião devidamente organizada possui neste ou naquele grau. A Umbanda é uma ciência porque, não se limitando a aceitação cega da imposição ritualística sacerdotal dogmática, indaga, pesquisa, investiga o dito sobrenatural servindo-se dos métodos mediúnicos kardecianos (mesmo quando seus adeptos não conhecem a ‘Terceira Revelação’) e dos métodos mediúnicos de Papus e Elifas Levi (mesmo quando as fórmulas evocativas são diferentes). A Umbanda, tanto quanto o espiritismo é uma ciência de experimentação e passível de evolução em grau que se não pode limitar. E é a Umbanda uma religião verdadeira? Para o católico nenhuma outra religião, além da sua, é verdadeira; e a sua fórmula dogmática é: ‘Fora da Igreja não há salvação’. Entretanto para o estudioso de religião comparada, que, à luz da história das civilizações e da ciência, concluiu que a fonte é uma só, a Umbanda não apenas é uma religião verdadeira como é também um vasto campo de pesquisa teosófica. É, portanto, a Umbanda, como antes dissemos, uma verdadeira religião e uma verdadeira ciência.”

No livro Codificação da Lei de Umbanda (Emanuel Zespo, Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1953, p.8 e p.47) o mesmo autor faz ainda outras considerações a cerca do que é a Umbanda, vejamos:
“A Umbanda – tal como surge agora no Brasil – é uma religião nascente, nova, moderna, produto da civilização ambiental; mas, também velha, antiga, remota quanto aos seus preceitos, à sua teogonia... Tanto quanto o Budismo aproveitou quase tudo do Bramanismo, o Cristianismo conservou o melhor do Mosaísmo, assim a Umbanda aproveita, conserva e guarda o que de bom e aproveitável pode haver em todas as religiões do passado. A Umbanda não é apenas uma corrente religiosa: ela é o sincretismo de todas as correntes religiosas, ela guarda os fundamentos de todas as teogonias e resume as bases de todas as filosofias”, “A Umbanda... é uma religião e uma ciência, um tipo de espiritismo religioso do Brasil”.

  • “A Umbanda é uma ‘Lei’, que engloba todos os cultos de origem africana e, atualmente, também os de origem ameríndia.”

Oliveira Magno (A Umbanda Esotérica e Iniciática, 1950, p.14), como o autor teve alguns outros títulos publicados coloco abaixo mais duas considerações feitas por ele no título Ritual Prático de Umbanda, 1953, p.12 e 13, afim de complementar sua visão e a evolução do seu entendimento a cerca do que é a Umbanda:
“Podemos considerar a Umbanda na fé e na lei. Se a considerarmos na fé, principalmente de Jesus, temos uma religião; mas se a considerarmos na sua lei, temos uma ciência, porque na lei se pratica a magia, e a magia é considerada em ocultismo uma ciência.”
“Sendo nossas mentes limitadas, não nos é possível atingir ainda o ilimitado e portanto quem quiser saber o que é Umbanda que explique primeiro o que é Deus e a sua origem.”

  • “A Umbanda é a Luz Divina, é a Fôrça, é a Fé, ou melhor: é a própria vida”
Aluízio Fontenele (EXU, 1952, Rio de Janeiro: Ed. Aurora)

  • “Sem cogitar da etimologia do vocábulo, podemos considerar a Umbanda como a ação organizada contra o erro e a maldade sob todos os seus aspectos, o da magia negra inclusive”

João Severino Ramos (Tenda Espírita São Jorge. Umbanda e seus Cânticos, Rio de Janeiro, 1953, p. 22)


  • “Umbanda é uma seita, professada dentro dos cultos afro-brasileiros e dentro dela existem várias nações, como: Omolocô, Keto, Nagô, Cambinda, Angola e outras mais.”

Tancredo da Silva Pinto (O Eró da Umbanda – Ed. Eco – sem data)

  • “Umbanda é a banda espiritual que DEUS deu de sua banda ao homem para o esclarecimento do seu espírito na verdade que é a luz e na fé que deu inicio a religião”

Espírito de Francisco Eusébio“Chico Feiticeiro” – psicografada por sua médium Maria Toledo Palmer (Maria Toledo Palmer. A Nova Lei Espírita Jesus e a Chave de Umbanda, 1953. p.48)

  • “Umbanda é Evangelho e Magia. Luz que escapa às limitações. Vibração que percorre os espaços e vence os milênios. Escola magnífica da Ciência Secreta!”
Paulo Gomes de Oliveira (Umbanda Sagrada e Divina, 1953, Rio de Janeiro: Ed Aurora)

  • “Umbanda é a Religião ensinada pelos Pretos Velhos e Caboclos de Aruanda”

AB’D ‘Ruanda (AB’D ‘Ruanda. “Lex Umbanda: Catecismo de Umbanda”. Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1954, p.17)

  • “Sincretismo Nacional Afro-aborígene, espírita cristão”

Jamil Rachid, 1955 (Definição da Umbanda nos estatutos da União de Tendas, presidida por Pai Jamil, citado por NEGRÃO, 1995. p. 99; a mesma definição consta nos estatutos do SOUESP, Op. Cit. p. 147)

  • “A Umbanda auto-representada pelo Congresso é cristã, espírita-kardecista, ecumênica e moralizada.”

Primeiro Congresso Paulista de Umbanda, 1961 (Citado por Lísias Nogueira Negrão, Entre a Cruz e a Encruzilhada, 1995. p.94)

  • “A Umbanda é um novo culto brasileiro do século XX, resultante do sincretismo religioso de práticas e fundamentos católico-banto-sudaneses, apresentando algumas fusões ameríndia e oriental, com observância do evangelho segundo o espiritismo, constituídos de planos espirituais evolutivos pela reencarnação. Em síntese: A Umbanda é um culto espírita brasileiro, com ritual afro-ameríndio, enriquecido com alguma liturgia católica”

Cavalcanti Bandeira (O que é a Umbanda. Rio de Janeiro: Ed. ECO, primeira edição em 1961 e segunda edição em 1973, p.36)

  • “A Umbanda é um culto espírita ritmado e ritualizado”

Fabico de Orunmilá, citado por Cavalcanti Bandeira na obra O que é a Umbanda, 1961.

  • “Umbanda é espiritismo prático é magia branca, é sessão de espiritismo realizada em mesa ou terreiro, para a prática do bem, e foi trazida para o Brasil pelos pretos africanos”

Benedito Ramos da Silva, no livro Ritual de Umbanda, citado por Cavalcanti Bandeira, 1961, p.113.
  • “A Umbanda é perfeita. Religião indubitavelmente pura, já que é baseada nas forças da Natureza, a Umbanda é ciência das mais belas, e forçoso é reconhecer que seus princípios filosóficos são um tanto complexos e não são fáceis de uma assimilação geral, até mesmo para seus praticantes mais convictos”

Átila Nunes Filho em Umbanda: Religião-desafio (Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1969. p.196) que complementa:
“As opiniões sobre os fundamentos da Umbanda se entrechocam e os exegetas se perdem no labirinto das teimosias, dos pontos de vista inarredáveis, e assim, geram controvérsias que levam os praticantes do culto à duvida constante sobre o que é certo ou que lhes parece incerto.” (p.196)
“ A Umbanda tem sua origem na ‘magia’, ou seja: ‘religião dos magos, ciência superior, sabedoria adquirida em conhecimento e experiências práticas, sensação de harmonia, fascinação, encanto...’ Umbanda não é brasileira nem africana; Umbanda é universal, pois suas pegadas são encontradas em toda parte, desde a criação do mundo.” (p.197)

  • “Umbanda é luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos, os maus”

Decelso (Decelso, Umbanda de Caboclos, 1972)

  • “A Umbanda tanto quanto o Espiritismo, é uma ciência de experimentação e passível de evolução em grau que se não pode limitar”

Primado de Umbanda (Primado de Umbanda, Glossário, p.96. Decelso, Umbanda de Caboclos, 1972, p.23)


  • “Umbanda é uma religião espírita, ritmada, ritualizada, euro-afro-brasileira”

Ronaldo Linares (Definição dada em aula, apostilada, por Ronaldo Linares para sua 25º turma de Sacerdotes Umbandistas, 2007. Também consta na sua obra Iniciação à Umbanda, Ed. Madras, 2008, p.52 )

  • “Umbanda é o Ritual do Culto à Natureza”;
“Umbanda é o sinônimo de prática religiosa e magística caritativa”

Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada, 2001 e Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada, 2003, Ed. Madras, Rubens Saraceni).

  • “Umbanda é uma poderosa pajelança urbana”

Edmundo Pellizari (Jornal de Umbanda Sagrada, Julho de 2009)

  • “Forma cultural originada da assimilação de elementos religiosos afro-brasileiros pelo espiritismo brasileiro urbano; magia branca" (Do quimbundo, umbanda, ‘magia’)

Aurélio Buarque de Holanda (Novo Dicionário Aurélio, 1986)


  • “Se o Espiritismo é crença à procura de uma instituição, a Umbanda é aspiração religiosa em busca de uma forma.” ( p. 33)

Candido Procópio Ferreira de Camargo[2], Sociólogo, dando continuidade à obra de Roger Bastide (Socilogia da Religião), dedicou especial atenção ao “Kardecismo e Umbanda”. Definindo ambas como “Religiões Mediúnicas”, que fazem parte de um “continuum mediúnico”, como uma unidade, que “abarca desde as formas mais africanistas de Umbanda até o Kardecismo mais ortodoxo”.

Sobre a Umbanda ele complementa:

Dificuldade bastante maior apresenta-se na tarefa de caracterizar a Umbanda, pois representa sincretismo sem corpo doutrinário coerente e, pelo menos no momento (lembre-se ele está escrevendo este texto na década de 50), incapaz de se congregar em formas institucionais de certa amplitude.
Do ponto de vista histórico podemos discernir os elementos que integram o sincretismo umbandista:
a) Religiões de origem africana – dos povos Sudaneses e Banto – que vieram para o Brasil como escravos;
b) Catolicismo;
c) Espiritismo Kardecista;
d) Religiões indígenas (pp. 8-9)


  • “Interpretei a Umbanda como uma religião heterodoxa...”

Diana Brown (Uma História da Umbanda no Rio in Umbanda e Política, 1985. p. 40)

  • “Umbanda é, sobretudo multiforme, um sistema religioso estruturalmente aberto.”

Lísias Nogueira Negrão e Maria Helena Villas Boas Concone (Umbanda: da repressão à cooptação in Umbanda e Política, 1985. p. 74)

  • “Umbanda, uma religião brasileira”

Este é o título de tese da Antropóloga Maria Helena Vilas Boas Concone, que foi usado para identificar a nacionalidade da religião, não pretendeu a autora fazer desta afirmação uma definição. Nós é que aproveitamos para lembrar que uma simples afirmação como esta pode vir a ser uma forma de identificação e definição.
Mas longe de resumir em palavras o que é Umbanda a autora afirma:
“Tentar caracterizar a Umbanda é um trabalho ingrato, escorregadio e difícil. Na verdade qualquer tentativa de caracterização absoluta está fadada, de antemão, ao insucesso”
(UMBANDA: UMA RELIGIÃO BRASILEIRA. São Paulo: Publicação do CER. Coleção “Religião e Sociedade Brasileira”, 1987. p.65)

  • “A Umbanda seria um código de percepção e ação pelo qual a visão de mundo subalterna da sociedade se elabora e manifesta”

Lísias Nogueira Negrão referindo-se a forma como Bastide e Ortiz interpretavam a Umbanda, nas décadas de 1960 e 1970, respectivamente.

  • “A Umbanda é a religião nacional do Brasil”

Afirmações políticas sobre a Umbanda no Segundo Congresso Brasileiro de Umbanda – 1961 (Citado em Manchete 11/61 in Umbanda e Política. p. 27)

Artigos publicados no Jornal de Umbanda e em O Semanário, e em muitas outras colunas e publicações de Umbanda, referiam-se à Umbanda como “uma religião brasileira”, “Umbanda, Religião Nacional do Brasil”, “Umbanda, ideal religioso para o Brasil” (grifo nosso), com freqüentes menções à temática desenvolvida por Gilberto Freire de ser o Brasil o único produto de miscigenação, e a Umbanda a única e verdadeira expressão religiosa brasileira dessa mistura.[3]

  • “Umbanda é o grande e verdadeiro culto que os espíritos humanos encarnados, na Terra, prestam a Obatalá, por intermédio dos Orixás. Desse culto participam os espíritos elementais e os espíritos humanos desencarnados.” “Na sua essência e na sua finalidade, a Umbanda é idêntica a todas as religiões do passado e do presente.” “Em resumo, a Umbanda é a Caridade. Nada mais.”
Altair Pinto (Dicionário da Umbanda, Rio de Janeiro: Ed. ECO, 1971. pp. 195-197)

  • “A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face as energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.”
Leonardo Boff, teólogo cristão (Texto O Encanto dos Orixás in Jornal “A Notícia” – Joinvile – SC, 05/12/2009)

  • “Umbanda é Brasil”
Jamil Rachid (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)

  • “Umbanda é religião, portanto só pratica o bem”
Alexandre Cumino (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)

  • “Umbanda é amor, humildade e caridade.” “Se um centro de Umbanda cobrar, coloque os dois pés para trás e saia correndo, isso não é Umbanda!”
Leonardo Cunha dos Santos, bisneto de Zélio de Moraes (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções).
Considero importante esta colocação, não apenas por ser uma afirmação do bisneto de Zélio, mas por lembrar que definir o que não é Umbanda faz parte do entendimento daquilo que vem a ser a Religião de Umbanda.

  • “A Umbanda é uma semente divina que serve para acolher aqueles que têm mediúnidade”
Rubens Saraceni (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)

  • “A Umbanda é uma coisa só, ela está dividida em cada um de nós, está em cada um de nós, mas é uma coisa só. Muita gente pergunta: ‘O que é Umbanda Branca, o que é Umbanda Carismática, o que é Umbanda Sagrada?’ Umbanda é Umbanda. Umbanda ainda é amor e caridade, Umbanda ainda é o grito do caboclo, Umbanda ainda é o preto velho no toco” “Umbanda é a religião mais ecológica que nós conhecemos.” “Agente pode dizer que Umbanda é a religião da onipresença divina, porque não há distinção ”
Adriano Camargo (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)


  • “Umbanda é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”
Claudinei Rodrigues, Sacerdote de Umbanda (Durante o Primeiro Seminário da Integração do Povo de Santo Para os Direitos Humanos – Câmara Municipal de São Paulo – 23/11/2009). Claudinei explica que embora aceite a definição do Caboclo das Sete Encruzilhadas, necessitamos de uma que fale ao coração de todos os cristãos, como esta que não é sua e sim de Cristo. Esta definição à luz do Cristianismo ajudaria muito a vencer o preconceito que sofremos por parte de alguns seguimentos “neo-pentecostais”.

  • “A Umbanda é Paz e Amor, é um mundo cheio de luz, é a força que nos dá vida e a grandeza nos conduz...”
J. Alves de Oliveira (Hino da Umbanda)

  • “Umbanda é fazer o bem sem olhar a quem”
Definição popular e de domínio público.
Todas estas definições foram pesquisadas para o livro História da Umbanda, de Alexandre Cumino e Editora Madras.
Definir Umbanda é definir algo vivo e em movimento, é como querer definir o que é o “ser” em toda a sua complexidade.

Segundo Roger Bastide nos encontramos em presença de uma religião a pique de nascer, mas que ainda não descobriu suas formas[4]. É certo que Bastide faz esta afirmação no final da década de 50, sob uma perspectiva dos Cultos Afro-Brasileiros.

Lísias Nogueira Negrão afirma que:

...a identidade umbandista faz-se e refaz-se em função das demandas de diferenciação e legitimação, apresentando-se de forma eminentemente dinâmica e compósita. [5]
Hoje a Umbanda se encontra melhor estruturada, no entanto podemos dizer que ela mantém as características de:

Religião ainda em formação (Roger Bastide), heterodoxa (Diane Brown), dinâmica e sobretudo multiforme, um sistema religioso estruturalmente aberto (Lísias Nogueira Negrão) e diversa, na qual se encontra uma certa unidade na diversidade[6] (Patrícia Birman).

Em tempo, um fenômeno isolado não é Umbanda; Umbanda é Religião portanto existe dentro de um contexto histórico, geográfico, social e antropológico. Podemos dizer, num ponto de vista teológico, que Umbanda pertence a Deus e aos Orixás, quando pudermos definir Deus então, só neste dia, definiremos com precisão o que é Umbanda.
Alexandre Cumino
(Umbanda) não pode ser contida ou apreendida no seu todo por quem quer que
seja. O mais que alguém poderá conseguir será captar partes desse todo...
Umbanda traz em si energia divina viva e atuante,
à qual nos sintonizamos a partir de nossas vibrações
mentais, racionais e emocionais.
Energias estas que se amoldam segundo nosso entendimento de mundo.
Rubens Saraceni. Umbanda – O Ritual do Culto à Natureza. 1995. P. 10