Para aqueles que não sabem, a palavra “quaresma” vem do latim “quadragésima” e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecedem a festa ápice do cristianismo: a ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa. Esta prática se consolidou no final do século III e início do século IV tendo sido citado no 1º Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano 325. Durante esses dias as Igrejas Católicas cobrem seus santos com panos de cor roxa ou branca em sinal de luto e respeito pelo sofrimento de Jesus.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material e os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades, portanto a duração da quaresma está baseada no símbolo deste número. Nela são relatadas as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos quatrocentos anos que durou a estada dos judeus no Egito, etc.
Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e ir dirigindo o coração para algo que vai acontecer.Não obstante respeitarmos esta prática religiosa, própria dos católicos, devemos ter em mente que tal habitualidade pertence ao catolicismo e não à umbanda.
No início da umbanda, religião essa formada por influências de diversos cultos, inclusive católicos, adotava-se por imposição, crendice e até mesmo por falta de personalidade religiosa, que neste período não poderiam existir trabalhos, giras e atividades em geral, pois seriam dias negativos que se iniciavam com o findar de uma grande festa pagã, o carnaval, onde espíritos trevosos se “soltavam” a fim de fazer maldades e obssediar pessoas e médiuns em geral.
Muitos terreiros fecham suas portas nesses dias, mas esse hábito vem diminuindo conforme vamos nos afastando do sincretismo religioso tão fortemente arraigado em nosso meio. Os umbandistas devem ter consciência e convicção de que os terreiros são verdadeiros pronto-socorros e jamais poderão fechar suas portas a médiuns e assistentes. Os irmãos necessitados que buscam ajuda em nossas casas não escolhem períodos determinados para solicitar auxílio e é muito contraditório achar uma porta fechada justo no momento de maior precisão.
Somos umbandistas e temos nossas ações dentro das leis de umbanda e não devemos jamais nos ater ao calendário litúrgico de outras religiões. Se há tantos espíritos perturbados soltos durante a quaresma é justamente nela que precisamos trabalhar para auxílio deles e de quem mais nos procurar.