PONTO ESTILIZADO DO TEMPLO

PONTO ESTILIZADO DO TEMPLO

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A UMBANDA DE JESUS

Sete Encruzilhadas, o Caboclo que anunciou o surgimento da Religião de Umbanda em 1908, declarou que Jesus seria o Mestre a ser seguido pelos umbandistas. Controvérsias à parte, já que alguns não aceitam suas palavras como base para uma vida espiritual sadia, Jesus é o modelo mais perfeito escolhido para ser o espelho dos médiuns e demais seguidores da Umbanda. Não há outro Médium vivido entre os homens que tenha subtraído toda a autoridade do Grande Mestre da Judéia em se tratando de vida mediúnica sadia e correta.

Jesus, o Médium, em nenhum momento fez alarde de sua missão na Terra. Sendo detentor de tanta autoridade, jamais exigiu que os homens se subjugassem a Ele. Jamais impôs sua condição de Ser Iluminado a fim de obter prestígio perante os grandes e diante dos pequenos. Suas palavras, cheias de autoridade, jamais foram autoritárias. Pelo contrário, tinham uma meiguice e uma simplicidade que encantavam os pequenos e incomodavam alguns que se achavam grandes.

Em sua trajetória mediúnica na Terra, Jesus aguardou o momento certo para agir em favor da caridade. Seu primeiro ato caritativo, no casamento de Caná, foi precedido de uma oração feita pela mãe que, aflita, intercedeu pelos noivos e seus pais. Jesus podia muito bem ter feito a transformação do vinho antes mesmo de Maria lhe pedir com tanta veemência, mas aguardou a hora certa. Não se precipitou, mas foi paciente para esperar que o tempo definisse o momento propício.

O médiuns de Umbanda, tanto os que estão iniciando quanto aqueles que já militam na fé, precisam ser menos apressados em ser úteis no trabalho espiritual da caridade. O tempo urge, mas não se precipita. Há médiuns que desejam ou querem tanto ser utilizados como aparelhos dos Caboclos e Pretos Velhos que não se preocupam com o próprio aprimoramento ou com o tempo certo para tal trabalho. Avançam apressadamente para os terreiros, colocando roupas brancas – ou coloridas, como queiram -, enchendo os pescoços de guias sem fundamentos e “incorporando” alguma Entidade.

Esquecem-se que incorporar qualquer Entidade não é o principal. Essa faculdade é apenas uma das muitas tarefas a desempenhar durante toda a vida. O início de tudo é a mudança que deve ocorrer dentro de cada um. Assim como foi a transformação que Jesus realizou em Caná, quando a água dos jarros ganhou cor, sabor e essência de vinho.

Apressadamente, muitos médiuns estão servindo fel aos que comparecem às bodas que são realizadas cotidianamente nos Terreiros de Umbanda. Em nome da “vontade” de trabalhar ou “receber” Caboclo – como se isso fosse um verdadeiro milagre – estão sendo depositários de uma bebida amargosa, fétida e intragável, quando incorporam sem o devido preparo espiritual e logo realizam consultas e receitam banhos, garrafadas e obrigações sem fim aos convidados da festa chamada Gira. Não atinam para o fato de que eles próprios são os jarros que devem conter a verdadeira bebida espiritual servirá para alegrar os corações necessitados que foram chamados a participar do evento. E, como se isso não bastasse, logo depois das primeiras incorporações, já que tomam para si o título de “mestre divino”.

Satisfeitos de sua capacidade mediúnica de incorporar e de falar em nome dos Pretos Velhos e dos Caboclos, logo sobem num pedestal ilusório e passam a encenar o quadro do Sermão da Montanha.

Olham do alto para os irmãos, tal como o humilde Jesus, e orgulhosos iniciam uma pantomima que supostamente pretende ensinar aos fracos e oprimidos da última hora. Baseados em sua pouca experiência e sem a devida mudança de pensamentos, hábitos e desejos, levantam-se de peito inflado e voz autoritária sobre os menos favorecidos como verdadeiros “mestres da Galiléia”.

Jesus, o exemplo apontado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, não foi um médium dessa estirpe. Ao contrário, desde moço, encheu-se de sabedoria, discernimento, autoridade e virtude para depois transmitir as novas da salvação aos homens de sua época e os dos dias atuais. Não teve como base seus pensamentos e suas experiências, mas sim nas Palavras Sagradas dos Profetas.

Jesus não teve olhos para os reinos do mundo. Como médium poderia servir-se de sua condição para angariar respeito e poder diante dos magistrados, sacerdotes e senhores da Judéia, mas rejeitou os oferecimentos políticos, mundanos e passageiros, para continuar humildemente sua missão na Terra.

Jesus não se intitulou “mestre”, mas Filho. Não se arvorou como “doutor”, mas apresentou-se como Aprendiz diante do Templo. Não subiu num trono para ser rei, mas encurvou-se como “Servo” aos pés dos discípulos.

Assim deve ser a Umbanda praticada por aqueles que se acham estupendos por incorporarem uma Entidade de Luz. Esse deve ser o retrato daqueles que batem no peito e dizem que são “médiuns”.

A Umbanda que Jesus praticou foi simples, sem estardalhaços, sem holofotes, sem soberba, mas cheia de doçura como o vinho e de palavras vivas como as da Montanha.


Deus Salve a Umbanda!

Julio Cezar Gomes Pinto

domingo, 8 de agosto de 2010

SER MÉDIUM É UM PRIVILÉGIO QUE TRAZ RESPONSABILIDADE!

"O médium necessita dar boa condição à incorporação do seu Guia através da sua formação moral, de bons pensamentos e boas atitudes. A vida nos dá oportunidades diariamente para revelarmos essas condições: com os amigos, com os vizinhos, com os familiares e até com os inimigos, pois precisamos contar até dez antes de respondermos à uma ofensa. Normalmente dizemos: “Eu não aturo desaforos”, quando deveria ser dado ao desafeto, uma palavra boa, um bom pensamento, isso quase ninguém faz. Até os animais sentem a energia de um pensamento positivo, pois só o amor é capaz de abrandar as feras".

"Se não houver no médium esse sentido de amor universal, nunca será um bom médium. Poderá ser pontual no trabalho, mas é duvidoso dizer que o espírito que dele se aproxima seja um espírito de luz, pois poderá ser um espírito terra-a-terra igual a ele".

"Umbanda não é só o trabalho de Terreiro e existe muita coisa que se faz e que só pode ser ensinado aos médiuns que já estejam preparados e em condições para receber, do contrário seria o mesmo que colocar uma arma nas mãos de quem não sabe manejá-la".

"Uma Entidade não pode transferir seus conhecimentos sem que haja muita segurança. O grande obstáculo à aquisição dessa segurança é a vaidade. Grande parcela de médiuns quer ser "os tais", procurando terreiros onde eles possam “aparecer”; isso é muito perigoso. O médium precisa ser amparado, orientado e lapidado.Mas como se pode preparar totalmente um médium se o mesmo não tem condições morais para tal? Como se pode dar conhecimentos mágicos a um médium que tem ódio no coração, que não conhece o perdão, que não sabe amar?"

"Todos têm o direito de não concordarem com determinados fatos que ocorrem dentro do terreiro; é permitido discordar do próprio Guia Chefe (desde que tenham razão). Na parte material, os médiuns têm o direito e dever de expor os problemas, de dizer honestamente aquilo que não estão gostando, que não está certo. Pois isso é uma crítica honesta, leal e construtiva. Mas a crítica que se faz nos bastidores, têm o sentido de destruir. Muito mais honesto é falar de frente do que criticar negativamente, às ocultas.Quanto à parte espiritual, não se pode aceitar que os médiuns venham a se destruir, que um ache que o outro é negativo, que é fraco. Isso é amor? Isso é fraternidade?"

"Se quiserem vencer dentro de um grupo mediúnico é através da união, da fraternidade e do amor. E mais:

- O médium deve zelar pelo seu procedimento moral e também pela higiene do seu corpo que seu Guia irá utilizar.

- Há banhos que os médiuns em desenvolvimento necessitam tomar. São forças que são atraídas para fortalecer a mediunidade. É a parte externa. A parte interna é a formação do sentimento, do caráter.

- Há necessidade de se atrair as forças da natureza através dos Orixás. Mas é difícil fazer isso isoladamente se o médium não tiver a consciência desperta para a vida espiritual.

- É preferível que os trabalhos junto à natureza sejam feitos em grupo comandados por quem tenha condições para tal.

- Não adianta fazer feitiço sem ser feiticeiro. Feiticeiro é quem sabe usar a força mental. Refiro-me ao mago branco e a magia das forças positivas da natureza. A outra magia que existe, não vale a pena aprender.

- Não é correndo de um terreiro para outro que o médium aumenta sua espiritualidade. É o sentimento de dever cumprido do médium para consigo mesmo e para com o seu Guia. Dê o contingente de valor ao seu Guia, procure elevar-se cada vez mais para que ele possa utilizá-lo como aparelho, para o bem do seu próximo!

- O médium consciente ouve e percebe que o que vai falar não é seu, que há uma inspiração dentro dele, uma força que o dirige. Ele é apenas um veículo dessa força. Ele se engrandece pela honestidade dos seus propósitos".

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

UMBANDA E CARIDADE

Dizem por aí que a Umbanda não é caridade! Que é normal se cobrar pelas palavras amigas de um Preto-Velho, pela energia revigorante de um Caboclo, pela pureza de uma Criança ou pela proteção de um Exú. Que devemos cobrar pelo que nos foi dado gratuitamente.

A mediunidade é um dom, mais que um dom, um presente divino. Uma forma de atingir o coração das pessoas mais necessitadas e lhes encher de carinho e segurança.

Afinal, a Umbanda também é amor! Amor pelos encarnados e pelos desencarnados.

Amor por ajudar aos necessitados. Amor pela caridade, pois a Umbanda é acima de tu-
do amor pela caridade!

Desde que foi revelada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, a caridade foi colocada como alicerce da Umbanda. Pois a Umbanda é louvação à Deus. E Deus é amor e caridade. E todas as entidades que estiverem dispostas a trabalhar em prol da humanidade terão seu lugar em um verdadeiro terreiro de Umbanda. Afinal, a Umbanda é serviço prestado ao próximo, é se esquecer do orgulho humano e aprender a ser humilde. Aprender a respeitar o sofrimento alheio como se fosse o nosso próprio sofrimento.

Ser Umbandista é ter sempre o coração aberto ao novo. Pois a Umbanda é filha do preconceito, e na Umbanda não se deve existir discriminação. Somos todos iguais! Em gênero, cor (todos somos da raça humana) e classe social!

Na Umbanda não há distinção entre os encarnados e nem entre os desencarnados. Afinal, somos todos filhos de Deus. E todos merecemos ser tratados com amor e dedicação.

Na Umbanda todos temos o direito de buscar e obter o auxílio necessário para nossa evolução. Pois evoluir é necessário. E não há meio melhor de se evoluir do que coma prática da caridade, do que sendo caridoso. Como diz Pai Pery, “fazer caridade é importante,ser caridoso com o irmão é essencial”. Ser Umbandista é ser caridoso!

Então meus irmãos, não se iludam! Não se deixem enganar por quem diz que devemos pagar para obter auxílio em um terreiro de Umbanda. Não se deixem enganar por quem diz que a Umbanda é uma fábrica de desejos e lhes promete tudo com prazos. Pois a Umbanda, também é merecimento.

Seja caridoso meu irmão, e então serás Umbandista. Umbandista de corpo, alma, mente e coração.

Umbandista a serviço da caridade.

Matheus Zanon Figueira
Centro Espiritualista Caboclo Pery

VOCÊ REALMENTE CONHECE A UMBANDA?

Por Marilena Mattos*


A Umbanda é uma religião de grande diversidade. Ao contrário do Kardecismo ela não é codificada e se apresenta através de diferentes práticas. Porém, alguns princípios básicos são comuns a todas as ramificações da Umbanda.



O primeiro deles é a caridade gratuita, sem distinção de cor, raça, credo religioso ou status social. Aliás, a incorporação mediúnica de Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus, Boiadeiros, etc, se dá para cumprir este objetivo - a caridade a quem precisa - e a evolução do espírito.



No que tange a evolução do espírito, a Umbanda crê na reencarnação dos espíritos para cumprimento de seus karmas e como forma de evoluir na escala espiritual. A Umbanda crê no livre arbítrio que torna o homem responsável por suas escolhas, ações, pensamentos e sentimentos e que o coloca, portanto, no dever de responder por seus atos sem revolta e com compreensão. Para a Umbanda, o mal é um bem a nascer e todos terão perante a Deus o direito de evoluir, mesmo que para isso sejam necessárias várias encarnações. Eis o verdadeiro objetivo das encarnações: oportunidade de crescimento e evolução para o espírito.



A Umbanda não prega o mal, é absolutamente contra a violência e valoriza a humildade como virtude fundamental. Tanto o corpo mediúnico quanto os dirigentes das Casas de Umbanda devem permanecer no exercício constante de combater a vaidade e lembrar que a doação e honestidade são fundamentais no caminho escolhido por eles: a missão que é o serviço à Umbanda.



A Umbanda também tem como um dos seus principais pilares o respeito. Respeito pelas outras religiões, respeito pela evolução e história de cada espírito, respeito pelos valores humanos, pela moral e pela dignidade.



Ainda hoje há muita confusão no entendimento da Umbanda. Essa religião que só prega caridade e respeito muitas vezes é mal interpretada por pessoas que a desconhecem ou pior, por charlatães ou pessoas de má fé que se dizem Umbandistas e só deturpam os princípios básicos da religião, fazendo com que boa parte da sociedade olhe para a Umbanda com desconfiança, medo e até aversão.



Não tenha medo de descobrir o que é a Umbanda, ela está de braços abertos, sem nenhum interesse, esperando para receber você, com carinho, respeito, amor e muita, muita fé em Deus!



*Marilena Mattos é pedagoga, sacerdotisa de Umbanda, dirigente espiritual da ‘Casa de Cláudia’ e vice-presidente do Movimento Umbanda do Amanhã (MUDA).

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

UMBANDA

A UMBANDA

Quando atinge grau elevado de complexidade, toda cultura encontra sua expressão artística, literária e espiritual. Mas ao criar uma religião a partir de uma experiência profunda do Mistério do mundo, ela alcança sua maturidade e aponta para valores universais. É o que representa a Umbanda, religião, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1908, bebendo das matrizes da mais genuina brasilidade, feita de europeus, de africanos e de indígenas. Num contexto de desamparo social, com milhares de pessoas desenraizadas, vindas da selva e dos grotões do Brasil profundo, desempregadas, doentes pela insalubridade notória do Rio nos inícios do século XX, irrompeu uma fortíssima experiência espiritual.

O interiorano Zélio Moraes atesta a comunicação da Divindade sob a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas da tradição indígena e do Preto Velho da dos escravos. Essa revelação tem como destinatários primordiais os humildes e destituídos de todo apoio material e espiritual. Ela quer reforçar neles a percepção da profunda igualdade entre todos, homens e mulheres, se propõe potenciar a caridade e o amor fraterno, mitigar as injustiças, consolar os aflitos e reintegrar o ser humano na natureza sob a égide do Evangelho e da figura sagrada do Divino Mestre Jesus.

O nome Umbanda é carregado de significação. É composto de OM (o som originário do universo nas tradições orientais) e de BANDHA (movimento inecessante da força divina). Sincretiza de forma criativa elementos das várias tradições religiosas de nosso pais criando um sistema coerente. Privilegia as tradições do Candomblé da Bahia por serem as mais populares e próximas aos seres humanos em suas necessidades. Mas não as considera como entidades, apenas como forças ou espíritos puros que através dos Guias espirituais se acercam das pessoas para ajudá-las. Os Orixás, a Mata Virgem, o Rompe Mato, o Sete Flechas, a Cachoeira, a Jurema e os Caboclos representam facetas arquetípicas da Divindade. Elas não multiplicam Deus num falso panteismo mas concretizam, sob os mais diversos nomes, o único e mesmo Deus. Este se sacramentaliza nos elementos da natureza como nas montanhas, nas cachoeiras, nas matas, no mar, no fogo e nas tempestades. Ao confrontar-se com estas realidades, o fiel entra em comunhão com Deus.

A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face às energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.

Há um diplomata brasileiro, Flávio Perri, que serviu em embaixadas importantes como Paris, Roma, Genebra e Nova York que se deixou encantar pela religião da Umbanda. Com recursos das ciências comparadas das religiões e dos vários métodos hermenêuticos elaborou perspicazes reflexões que levam exatamente este título O Encanto dos Orixás, desvendando- nos a riqueza espiritual da Umbanda. Permeia seu trabalho com poemas próprios de fina percepção espiritual. Ele se inscreve no gênero dos poetas-pensadores e místicos como Alvaro Campos (Fernando Pessoa), Murilo Mendes, T. S. Elliot e o sufi Rumi. Mesmo sob o encanto, seu estilo é contido, sem qualquer exaltação, pois é esse rigor que a natureza do espiritual exige.

Além disso, ajuda a desmontar preconceitos que cercam a Umbanda, por causa de suas origens nos pobres da cultura popular, espontaneamente sincréticos. Que eles tenham produzido significativa espiritualidade e criado uma religião cujos meios de expressão são puros e singelos revela quão profunda e rica é a cultura desses humilhados e ofendidos, nossos irmãos e irmãs. Como se dizia nos primórdios do Cristianismo que, em sua origem também era uma religião de escravos e de marginalizados, “os pobres são nossos mestres, os humildes, nossos doutores”.

Talvez algum leitor/a estranhe que um teólogo como eu diga tudo isso que escrevi. Apenas respondo: um teólogo que não consegue ver Deus para além dos limites de sua religião ou igreja não é um bom teólogo. É antes um erudito de doutrinas. Perde a ocasião de se encontrar com Deus que se comunica por outros caminhos e que fala por diferentes mensageiros, seus verdadeiros anjos. Deus desborda de nossas cabeças e dogmas.

Leonardo Boff